Quando você está em casa e sua mãe liga dizendo preocupada: “Acabei de cair!”, você se depara com uma nova situação. Algo novo e inusitado. Você se apavora e pergunta se está tudo bem, depois, sente um pouco de raiva pela bocabertice dela. Acha que não está certo ela não ter olhado para o chão ou ter feito tudo ao mesmo tempo sem prestar atenção num simples caminhar. Mas a verdade é que você não percebeu ainda, e se deparou pela primeira vez com uma situação inevitável da vida, a inversão de papéis.
A natureza é sábia. Ela é um ciclo. Você é cuidado e depois você cuida. Não são todas as pessoas que passarão por esse ciclo, claro, mas ainda assim é possível dizer que é uma Lei da Vida. Enquanto isso, existe o envelhecimento, então em nossa vida adulta lidamos com duas situações: o início da nossa família e o envelhecimento de nossa então família, nossos pais. Mas estamos preparados para essa regra natural da existência humana?
Nós não estamos preparados para isso. E ninguém nos prepara, por mais que vejamos todos os dias, por mais que compartilhemos momentos com nossos pais e identifiquemos os cabelos brancos nascendo, a coluna encurvando e as dores aumentando. Se deparar com isso pela primeira vez gera muito medo, em nós filhos, gera muito nervosismo para lidar com a situação e, muitas vezes, gera raiva por vê-los impotentes.
Não é que estejamos com raiva de nossos pais, mas estamos com raiva de Deus, raiva do Universo por ter essa regra de vir e ir da Terra. E, por isso, muitas vezes, ao invés de amparar nossos pais, brigamos com eles. Tá errado? Tá. Mas é fácil mudar e amparar? Não. É preciso muita reflexão e diálogo com nossos pais para entendermos em que situação de vida eles estão e como podemos ajudar. Acompanhar em consultas médicas, acompanhar em exames de rotina, buscar locais onde eles possam compartilhar experiências e receber apoio e amparo. Essas são somente algumas das novas atividades que poderemos compartilhar com eles.
Como filhos, precisamos estar atentos a essas mudanças e a essa inversão de papéis. Às vezes é quase imperceptível o momento em que deixamos de ser cuidados e passamos a cuidar. Outras vezes, nossos pais não aceitam que precisam de ajuda e aí vem a pergunta que nos martela: quando forçar uma ajuda que eles não querem ou não aceitam? Como começar esse diálogo com eles? Essas são perguntas para serem respondidas por profissionais da área, por geriatras, por psicólogos, por pessoas que possam acompanhar e compartilhar nossa realidade com a gente antes de dar respostas prontas.
O mais importante é não deixar passar desapercebido a necessidade que eles têm de estarem mais próximos da gente e de nosso amparo. É entender que são fraquezas e não bocabertices. É se preparar para acalmar e cuidar ao invés de brigar ou xingar. Sempre o entendimento, diálogo, carinho e amor serão os melhores remédios e companheiros para as pessoas que querem construir bons e sadios relacionamentos.
Autora: Jorgete Rain