O problema
do Pilates é que ele mexe nuns troços que seria melhor deixar quietos. Eu,
claro, não sabia disso, então aceitei a recomendação do médico, que disse que
meus músculos andavam flácidos. Acho meio humilhante um homem ter músculos
flácidos – não que me importe tanto com meus músculos, mas músculos flácidos,
ai já pega mal.
- O senhor
tem músculos flácidos – reprovou o doutor, e eu me senti oficialmente um
sujeito mole, meio despregado, todo murcho.
Teria de
fazer Pilates, paciência.
E não é ruim, pelo contrário, só há de se tomar alguns
cuidados. Já na primeira aula, em meio àquele estica e puxa nos aparelhos, notei
que enquanto meu abdômen fazia força, alguma coisa se afrouxava lá dentro. As alunas
e professoras – ainda tenho a impressão de que, fora eu, só mulheres fazem
Pilates – emanavam elegância naquele desenrolar de pernas e braços, mas eu,
sentindo a coisa afrouxar lá dentro, só pensava no Diógenes.
Que homem, o Diógenes.
Sua filosofia, uma das mais influentes da Grécia Antiga,
pregava que tudo o que é natural não pode estar errado. Ele usava essa premissa
para peidar, urinar e se masturbar em público, mas isso nunca impediu a
população de admirá-lo. Os atenienses respeitavam sua postura contestadora,
sempre denunciando as convenções sociais e a forma como o homem complicava “os
mais simples presentes dos deuses”.
O casamento, dizia Diógenes, era uma forma de complicar o
presente natural do sexo. Quer dizer: para alcançar a felicidade, ninguém
precisaria depender de qualquer coisa externa à própria existência. Bastaria
usufruir dos “presentes naturais” e libertar-se das imposições de uma sociedade
que em vez de acolher, reprime.
E como reprime. Por que eu deveria me sentir tão reprimido?
Ora, minhas reações fisiológicas era absolutamente naturais no Pilates, puxa
vida, eu nunca havia me contorcido tanto. E na volta para casa, depois da aula,
era sempre a mesma angústia.
- Vai acontecer. Sei que uma hora vai – repetia eu, ainda
suando.
E assim atravessei as últimas semanas, suando e me
segurando, me esticando e me concentrando, até que no fim de uma das aulas,
quando o alongamento individual de cada aluno é conduzido pelas professoras,
deu-se o seguinte: estava eu lá, deitadão, aí a professora ajoelhou-se à minha
frente, segurou minhas canelas e, como de praxe, empurrou-as com todo o peso de
seu corpo, de modo que meus joelhos chegassem ao meu próprio peito, apertando
assim meu abdômen.
Só que foi meio forte.
E aí aconteceu.
E foi meio alto.
Na verdade, foi bem alto, então olhei para a professora, ela
me olhou de volta com um sorriso acanhado, uma aluna me olhou com um sorriso desconfiado,
um terrificante silêncio abate-se sobre o estúdio, e eu ali deitado e abraçado
à minha própria vergonha, lembrei de Diógenes e enfim suspirei, derrotado:
- A sociedade reprime!
Crônica de Paulo Germano em 9 de julho de 2017 para
Zero Hora.
O Pilates porque ele tem dessas coisas também, mas a gente não reprime, a gente ama o Pilates :)
Bom final de semana a todos!!!